O BEIJO E A PALAVRA
Um beijo trouxe à boca um som suspenso,
Um verbo incerto em tímida vertigem.
Ardeu-me a língua, em gosto tão intenso,
Que o pensamento embriagou-se à origem.
Que farei dos clamores que me afligem
Se o beijo cala a voz e o peito, denso,
E a língua, em fogo, em vão transigem,
Ao silêncio que em sílabas condenso?
No mudo enlace, a essência é percebida,
Pois na ausência de som, o amor proclama,
Que o sentir é maior que a própria vida.
Se a voz se apaga, a alma ainda exclama:
Não há na língua a sílaba perdida,
Mas no desejo, a fala que me chama.
Melgaço, Pará, Brasil, 25 de fevereiro de 2025.
Composto por Léo Frederico de Las Vegas
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