A PRESENÇA NAS COISAS
A casa, agora, parece um eco. Cada canto guarda uma memória, um fragmento de risadas e conversas que, por vezes, parecem se entrelaçar com o silêncio ensurdecedor da ausência. O filho caminha lentamente pelos cômodos, seu olhar se detém em objetos que, à primeira vista, parecem comuns, mas que carregam o peso de um amor imenso.
A cadeira na sala, com seu assento um pouco afundado, é um retrato vivo da presença da mãe. Ela costumava se sentar ali ao final da tarde, um livro na mão e um sorriso nos lábios. Agora, ao olhar para aquele espaço vazio, o filho sente um nó na garganta, mas também um calor no coração. Ele imagina o cheiro do café que ela costumava preparar, o aroma doce que se misturava ao perfume das flores que ela adorava cultivar no jardim.
Na cozinha, o filho abre o armário e encontra o velho conjunto de pratos de porcelana, com os quais ela sempre servia as refeições. Cada prato carrega uma história: os almoços em família, as datas comemorativas repletas de alegria, os dias comuns que, com a presença dela, se tornavam especiais. Ao tocar os pratos, ele sente um misto de saudade e gratidão. É como se, de alguma forma, ela estivesse ali, observando-o e guiando-o a cada passo.
Na estante, um pequeno porta-retratos captura a imagem de um dia ensolarado, quando a família estava reunida. Ele sorri ao recordar a risada contagiante da mãe, a forma como seus olhos brilhavam ao contar histórias da infância. Naquela imagem, a dor se dissolve em um doce afago de recordações. Ela não partiu de verdade; vive em cada memória, em cada risada compartilhada, em cada lágrima derramada.
Ao olhar para o velho cobertor que ela usava nas noites frias, sente a suavidade do tecido e se envolve nele, como se pudesse abraçá-la mais uma vez. É uma conexão palpável, um lembrete de que, apesar da distância imposta pela morte, o amor permanece, tecendo laços invisíveis entre o que foi e o que é.
O filho percebe que a saudade, embora dolorosa, é também uma forma de amor. Cada objeto, cada recordação, é uma ponte que o liga à mãe, uma forma de mantê-la viva em seu coração. Ele entende que, mesmo na dor da perda, ela não se foi. Ela permanece, presente nas pequenas coisas, nas memórias que dançam como sombras ao seu redor.
E assim, o filho aprende a lidar com a saudade. Em vez de permitir que a ausência o consuma, ele escolhe celebrar a vida que tiveram juntos, encontrando consolo nas lembranças e nos objetos que ainda falam dela. A casa, antes um eco de tristeza, se transforma em um santuário de amor, onde cada canto sussurra histórias, e cada objeto se torna um guardião da memória de uma mãe que, mesmo longe, nunca deixará de estar ao seu lado.
Melgaço, Pará, Brasil, 22 de janeiro de 2025.
Composto por Jaime Adilton Marques de Araújo
◄ Crônica Anterior | Próxima Crônica ►