CANTO REAL À SUPERLUA
Ó lua plena, que em glória resplendente,
No céu te ergues com brilho soberano,
As tuas vestes, de prata reluzente,
Iluminam o vasto oceano.
Teu olhar é poesia sobre a Terra,
Que no peito amoroso se encerra,
Teu fulgor atravessa o firmamento,
És a hóstia dos sonhos - sacramento.
Teu brilho me envolve, em refrigério,
Teu resplendor é meu eterno alento;
Mora em ti a fantasia e o mistério.
És bela, ó lua, de esplendor dolente,
Governas, das marés todo o arcano;
O coração se acalma em ti, silente,
Noite após noite, no cotidiano.
O brilho das estrelas em vão erra
Ao teu lado nos céus, sem fazer guerra,
Ao teu brilhar abençoado, sem tormento;
Tudo em volta, em agradecimento,
Se curva do teu arco ao império,
Pois, o teu brilho é renascimento,
Mora em ti a fantasia e o mistério.
Tu, soberana e cheia, és vidente,
Trazes, de longe, paz ao ser humano;
Em tua forma, és pura e transparente,
Vibras do céu no altar draconiano.
Quem a ti vê surgindo sobre a serra,
Em teus traços, vê beleza que soterra
Toda a tristeza e todo o vão lamento
Das estrelas, bailando em sentimento,
No cosmos, incensando-te, sidéreo,
Pois tu és senhora do alumbramento,
Mora em ti a fantasia e o mistério.
Nas águas brilhas, especial, fremente,
Desenhas sobre o mar teu vasto e plano
Universo de paz grandiloquente
Numa dança natural, sem desengano.
Superlua, és rainha que desterra
Toda a tristeza, e teu olhar aterra
As trevas dissolutas num momento,
Em um banho de prata, encantamento!
E cada alma, em canto azul - e sério -
Vê em teu resplendor envolvimento;
Mora em ti a fantasia e o mistério.
Lua cheia, de um brilhar, assim, fluente,
Olhas pra mim, tão pútrido, carpano,
E, no céu, te ergues, qual alvinitente
Farol a dar-me luz, perdão profano.
E na tua face, um segredo descerra
Um outro segredo que o peito cerra:
É teu ciclo marcando o movimento
Das estações, dos climas e do vento.
És guardiã da luz - rito funéreo -
Teu brilho sempre traz um pensamento:
Mora em ti a fantasia e o mistério.
OFERTÓRIO
Ó lua, em teu fulgor, deslumbramento,
Guia-nos na noite, sem ressentimento,
Que possa o poeta a seu critério
Dizer-te com prazer, contentamento:
Mora em ti a fantasia e o mistério.
Afuá, Pará, Brasil, 17 de setembro de 2024.
Composto por Jayme Lorenzini García
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