UM CANTO QUE NÃO SE CALA
REFRÃO
Pai, escuta-me a voz do silêncio!
Pai, escuta-me a voz do silêncio!
Pai, escuta-me a voz do silêncio!
Que já não tenho mais força…
Para gritar ao mundo meu lamento
Suporto a cruz da minha poesia;
Meu verso seco, rude e malombento
Minha tristeza aos prantos denuncia.
De que me vale ter os olhos livres
Se permanecem minhas mãos atadas?
Se os olhos vêem os filhos que não tive
Abandonados à beira da estrada?
Como é que posso, pai, resignado,
Calar diante de tanta injustiça?
Se ao mundo vim cumprir a minha liça
Estufo o peito, sem ser escutado.
Então libero uma força tamanha
Que se traduz nesse silêncio aflito;
Quanto mais calo mais forte esse grito
Se faz ouvir muito além da montanha.
De tanto pranto já não há mais lágrimas
De tanta fome só há osso e pele…
Vejo crianças, homens e mulheres
Em cada esquina a mendigar… Que lástima!
Insone fico pela madrugada
A meditar em vão numa saída.
Hei de comprar a cada dia a vida;
Meu verbo não pode exprimir mais nada…
Meu coração não é maior que o mundo
Para conter todo esse sofrimento,
Mas o meu pobre verso é lenimento
Minha revolta nele sempre infundo.
Sou vítima da ambição desmedida
Que quer roubar-me minha estrela guia,
Envergonhar a minha poesia,
Calar meu canto e me acabar co’ a vida!
Eu sei meu canto não está perdido
Nem meu lamento de desesperança…
Ainda resta um pouco de esperança
Dilacerando o peito qual gemido!
Desesperado quero abrir a porta
Refúgio procurar na solidão…
Quero de vez, morrer na contramão
Contudo, nem com isso alguém se importa.
OFERTA
Agonizando nessa atroz tormenta
Vou prosseguindo na minha labuta:
“Só mesmo um bando de filhos-da-puta
Julga ser pátria o cárcere que inventa.”
Gurupá, Pará, Brasil, 25 de outubro de 2010.
Composto por Léo Frederico de Las Vegas.
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Contrafactum de "CÁLICE", composição de Chico Buarque.